Dormir, talvez sonhar...

22.8.04

acontecimentos

Meu avô era idêntico ao Lima Duarte. Eu ia me casar. Minha nova casa ia ser o vagão de trem vermelho que ficava na frente da casa branca de meu avô. Eu não queria que fosse assim, pois achava feia demais a fachada da casa do Sr. Lima. Mas ele insistia. Sua mansão tinha bordas arredondadas, curiosamente combinando com a conformação de meu vagão-lar-doce-lar. E lá estava eu, pensando se deveria incorporar o casebre à fachada do casarão ou se devia deixá-lo como estava, destacado do todo. Talvez fosse melhor transportar meu lar para os fundos, separá-lo da edificação principal. Lembro de querer, na verdade, levar o vagão comigo, para o lugar que bem entendesse.

Tinha uma prima idêntica à Cláudia Raia. Meu avô, insuportável que era, não nos convidava para as festas importantes que dava. A única bem-vinda quando de tais eventos era prima Cláudia. Afinal, era uma figura mais exuberante, mais sofisticada.

De repente a casa do avô paterno (ou materno, não sei) se transformou em um hospital. Lugar cheio de portas. Lembro-me de abrir quatro portas em um único vão, tentando, também em vão, chegar ao lugar aonde deveria ir. O lugar? Talvez eu soubesse do que se tratava, mas agora não me lembro. Só sei que errava sempre o caminho, confusa que sou. E cismava de entrar nos consultórios luxuosos, para os quais não havia sido convidada ou, no mínimo, esperada.

Antes disso, morava na sobreloja de um boteco. Ainda no bar, queria tomar uma cerveja, mas não podia. Minha casa se esparramava ao longo de mais de um pavimento, e a escada que ligava o quarto ao banheiro era, no mínimo, claudicante. Não sei se já falei, mas tenho problemas com escadas, ou, mais especificamente, com qualquer altura que dependa de minhas pernas para ser vencida. No fundo, a claudicante aqui sou eu. Enfim, eu não bebia para não ter de acordar à noite com vontade de fazer xixi, para não ter de subir e descer a vacilante escada.

No meio disso tudo, houve conversas, telefonemas, passeios pela cidade. Acontecia por aqui - ou por onde quer que seja - uma série de shows. Acabei me deparando, durante o passeio noturno, com Erasmo Carlos. O "Tremendão" se apresentaria em algum lugar que não sei identificar. Eu o vi em dois momentos temporalmente improváveis. Quando do ocorrido, pensei: é um desses fenômenos em que o espaço-tempo se desfaz e vemos as coisas duplicadas. Pareceu-me mais do que normal.

Comi torresmo, comi um PF, conversei. Fui ao banheiro do boteco, que tinha janelas abertas. Todos poderiam me ver durante meu "fazer" das necessidades básicas, mas consegui fechar as janelas a tempo. Voltando ao começo, a mulher de meu avô-Lima-Duarte (que por sinal não era minha avó) era bastante cafona. Queria que eu criasse, para ela, um horrendo vestido cheio de babados e mangas bufantes. Boazinha que sou, obedeci.

Em dado momento, resolvi que precisava renovar meu guarda-roupa. Fui à C&A, que por acaso se chamava Boticário, como aquela loja de perfumes. E, como aquela loja de perfumes, a tal C&A vendia perfumes. Como estou acima do peso (ah, que saudade dos meus 46 quilos!), escolhi apenas blusas grandes, largas, retas. O provador ficava longe. Era preciso pegar o trem para chegar até lá.

Que lugar confuso, o tal provador! De início, eu e uma colega compradora de meia-idade acabamos, por engano, no provador masculino. Vendo os mictórios, percebi o erro e avisei minha companheira.

Seguindo por um corredor meio escuro, pensei que, desta vez, estava no lugar certo. Mais ou menos, eu diria. Estava, sim, na ala feminina, mas tratava-se de um berçário-maternidade. Bebês em profusão e duas ou três grávidas, nuas, cobertas por mantas, em trabalho de parto. Por "trabalho de parto" entendam: dor e contorções. Pensei: que estranho uma loja de departamentos funcionar também como maternidade! A propósito: eu me locomovia sentada em um tipo de cadeira-de-rodas que, no fundo, não era uma cadeira-de-rodas. Como estava difícil sair daquele antro de mães e bebês, resolvi me levantar e empurrar o andador.

Finalmente cheguei ao provador. Cheio de regras, o lugar permitia que se experimentassem, de uma só vez, apenas cinco peças de roupa, mas eu tinha, comigo, mais de trinta. A funcionária da loja foi boazinha, e me deixou entrar com dezesseis peças. Não sei ao certo de onde a criatura tirou aquele número exato, dezesseis. Resolvi experimentar apenas duas, preguiçosa que sou quando o assunto é comprar e, principalmente, provar roupas.

A história é longa. No meio de tanta confusão, muitos detalhes ficaram por contar. Alguns porque foram esquecidos, e outros porque resolvi encurtar o relato. Aliás, por mais que eu fale, jamais conseguirei traduzir em palavras as imagens que ainda passam por minha cabeça.

Delírio? Alucinação? Nada de preocupação, pessoal! Não é o caso - ainda - de me encomendarem como modelito básico uma camisa-de-força. Foi só um sonho. Afinal, sonhos sonhos são. Ou não?

Monicômio

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