Dormir, talvez sonhar...

4.8.03

Mais sonhos

Escrevo aqui um terceiro sonho e repito os dois primeiros pois existe alguma coerência entre eles...

Terceiro - Deitado de lado em minha cama, olho para um céu azul. Aves dançam no azul. Não há brisa, a cortina repousa. Sem intenção de mexer-me, deixo-me ficar. Um fino lençol cobre meu corpo. É uma tarde quente. É incrível e banal que as montanhas ao longe cheguem até mim através da vidraça. Eu não as entendo e elas, as montanhas, tampouco entendem a mim. Mas não há problema nisso.
Isto, sem dúvida, é uma paisagem.
E, de repente, não é mais. Num segundo - é um sonho - o que estava lá fora está aqui dentro deste pequeno quarto, desta pequena cidade, deste pequeno mundo. Tudo é muito pequeno, mas o infinitamente pequeno comporta o infinitamente grande, sem dúvida. Porque o que penetrou pelas paredes brancas, não foi a paisagem. Aquilo que agora contemplo, como mergulhasse em um poço de águas cálidas, é seu olhar e, para além dele, seu corpo a se espreguiçar longamente, como quem reluta a levantar depois de um sonho bom que ainda perdura na vigília. Em seguida, me aninho e volto a dormir profundamente, invadido por essa doçura sem fim.

Primeiro - No meu sonho você entrava flutuando pela janela e beijava minha boca docemente sem que eu acordasse. Era dia e uma brisa fazia com que a cortina oscilasse suavemente. O sol atravessava o tecido e dava ao ambiente um tom alaranjado e lânguido. E sem que eu acordasse, você me beijava a boca. E era como antes. Como o primeiro beijo, antes da primeira palavra, antes mesmo do primeiro encontro. O primeiro, idealizado, em que os lábios se roçam mas não dizem nada. E então seu corpo pousava ao lado do meu e seus olhos me observavam enquanto eu ressonava levemente durante a tarde quente, durante dias, durante anos, durante séculos. E no sonho, enquanto eu dormia, não sonhava com você, mas com a primeira bicicleta, uma pipa de oito lados e plástico transparente que desaparecia magicamente no céu feita por meu pai, com meu avô a caminhar a meu lado, com os olhos verdes da primeira namorada. No meu sonho eu tentava acordar para lhe dizer algo, algo importante, muito importante, ou simplesmente para tocar seus cabelos.

Eu acordava e você não estava mais lá.

Segundo - E no meu sonho, ambos, de lugares diferentes, víamos a lua. Era torturante saber que víamos o mesmo astro sem, no entanto, nos vermos. Ao mesmo tempo tornava-se confortável o sentimento de que compartilhávamos a mesma paisagem. A lua, cheia, pulsava como as contrações de um corpo quente. Porém, minha janela estava vazia de você, um vazio da silhueta nua contra o céu escuro e estrelado.

Neste momento - era um sonho - um dragão chinês passou pelo quarto.

cracatoa simplesmente sumiu

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